sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

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15/01/2010 - 07h04
Lixo coloca em dúvida projeto no 1º Mundial do Rio olímpico

Bruno Doro
Em São Paulo


O Campeonato Mundial da classe Star começa neste sábado no Rio de Janeiro. Primeiro evento de uma modalidade olímpica desse porte realizado na cidade desde que os brasileiros ganharam a disputa pelas Olimpíadas de 2016, a competição de vela será realizada sob a aura de dúvida.Com as fortes chuvas que atingiram o estado do Rio nas últimas semanas, a Baía de Guanabara está imunda. A quantidade de lixo flutuante, como sacos plásticos e garrafas pet, é grande nas águas que deveriam ser usadas na competição. E a perspectiva não é das melhores para os próximos anos.

Segundo o engenheiro ambiental Axel Grael, irmão dos medalhista olímpicos Torben e Lars, o plano de despoluição da Baía de Guanabara é ambicioso. Talvez ambicioso demais. “O que foi apresentado no dossiê para as Olimpíadas é o projeto que o Estado já tinha feito. A diferença é que eles espremeram tudo. O que devia ser feito em dez anos, terá de ser feito em seis. A meta é reduzir em 80% o esgoto despejado na Baía. E esse é um número muito alto”, explica.

Grael fala com conhecimento de causa. Ele foi presidente da Feema (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente) até 2008. No período, foi um dos responsáveis pela elaboração do PDGB, o plano de despoluição do local. Além disso, também coordenou a preparação da Baía para outro evento importante, as provas de vela do Pan-Americano de 2007.

“Para o Pan, o que fizemos foi usar aquelas bóias de contenção de óleo, para também conter o lixo flutuante. Deu certo. Mas para 2016, estamos falando de algo muito maior. Não podemos comparar Pan com Olimpíadas”, lembra.

De acordo com ele, o grande desafio para o Rio não é a melhora da qualidade da água, mas a conscientizarão das pessoas. “A redução do esgoto que é despejado na Baía é um problema do Estado e isso tem de ser resolvido. Agora, o lixo flutuante, é culpa da população, que joga de tudo na calha dos rios e os rios fazem com que tudo chegue à Baía”.

A solução, para Grael, é aumentar o nível de envolvimento da população. “Quando você fala em PDGB, as cifras chegam a R$ 1,3 bilhão. É um número que, para o cidadão comum, parece muito grande, longe da sua realidade. Tão grande que afasta as pessoas. Mas o processo de despoluição precisa chegar à escala do cidadão. Claro que não é uma substituição do dever do Estado. É o governo que tem de fazer estação de tratamento, rede de esgoto. Mas tem coisas que estão na escala do cidadão”.

Para ilustrar a sugestão, ele usa a enseada de São Francisco, em Niterói, como exemplo: “Em Niterói, nós conhecemos todos os pontos de chegada de poluentes e as causas. Nessa escala, podemos pensar em soluções. Como é no bairro, você pode falar com o fulano que jogou lixo no córrego, explicar que isso chegou à praia e causou o problema. Tudo fica mais pessoal. Aí, se você tem uma praia que está limpa, a vizinha se anima. É uma contaminação positiva que pode ajudar muito”.

O medo, porém, é que todo esse programa não surta o efeito necessário até 2016. “A cara do Rio vai estar exposta. E a gente corre grande risco de, se não mostrar resultados, alterar o projeto olímpico e tirarem a vela do Rio. Temos de perseguir as soluções, porque seria um vexame completo perder a oportunidade que essa motivação olímpica oferece”.

Enquanto a baía não melhora, os velejadores seguem lidando com o lixo. O Mundial de Star, por exemplo, terá apenas uma de suas seis regatas disputadas dentro da Guanabara. As demais serão em mar aberto.

A realização das provas no local foi alvo de discussão dos velejadores. Uma série de questões logísticas sugeria que fazer o campeonato em mar aberto era mais fácil. E o lixo tornou a decisão mais simples. Mas não evitou reclamações.

“Eu fui voto vencido nessas discussões. Na minha opinião, para a vela seria melhor que todas as regatas fossem dentro da baia. Fica mais perto do público, é mais fácil visualizar a competição. E, independentemente das condições da água, com lixo ou não, o melhor velejador vai sempre vencer”, disse Alan Adler, um dos brasileiros que já foi campeão mundial da classe.

Dono de dez títulos mundiais, nove na Laser e um na Star, Robert Scheidt acha que a decisão é a acertada. “O lixo incomoda, é obvio. A pior coisa que pode acontecer com um velejador é perceber que você está perdendo rendimento por um fator externo, seja um saco plástico, algas, redes de pesca. Você sempre procura dar o máximo e acaba frustrado por algum problema que não é seu”.

O Mundial de Star, realizado pelo Iate Clube do Rio de Janeiro, começa neste sábado, com a primeira regata que vale para a classificação, e termina na próxima sexta. Só uma regata será disputada por dia. No total, são 81 barcos inscritos.

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