domingo, 5 de junho de 2011

O dia em que velejei com Torben Grael

Repórter a bordo precisa se segurar firme. Foto: Fernando Borges/Terra
Dassler Marques

Direto de Ilhabela

"Três minutos", anuncia de maneira enérgica um dos membros da tripulação do veleiro Mitsubishi Gol, classe S40. "Trinta segundos", diz instantes depois. Nessa altura, o coração de um jornalista a bordo vai muito além de 100 batidas por minuto. Estamos no barco liderado por Torben Grael, em Ilhabela, por ocasião da disputa da Mitsubishi Sailing Cup. Torben e os demais competidores, gentilmente, realizaram uma regata para troca de experiências com os repórteres in loco.

Por mais que o mar esteja tranquilo e todos os profissionais dominem o veleiro, ouvir uma contagem regressiva a bordo causa apreensão em doses razoáveis para que não está habituado. Por sorte, aquela era apenas a preparação para a largada em movimento, ocasião chave na vela. É quando cada barco encaminha qual será sua estratégia para transpor as boias e terminar a regata à frente.

Torben tem cinco medalhas olímpicas e só outros cinco brasileiros, além dele, conquistaram dois ouros nos Jogos. Mais sorte que a dele, só a minha: entre mais de uma dúzia de jornalistas, fui sorteado para embarcar no seu Mitsubishi Gol. Um privilégio e tanto.

Torben, 50 anos, é o tipo de liderança silenciosa. Na teoria, o comandante da embarcação é seu filho, Marco, timoneiro e três décadas mais jovem. Na prática, é o pai quem define os movimentos que os outros nove membros da tripulação vão fazer. Mas quase sempre sem muita exaltação: tudo se resolve com comandos rápidos e pontuais. Inclusive o que deu a mim: "fica na popa (traseira), é onde você vai atrapalhar menos. Acompanha o resto do pessoal e fica sempre na parte do barco que está para cima".

Dançando sobre um veleiro

A bordo de um veleiro de 40 pés (mais de 12m de comprimento) você não imagina a inclinação que se faz sobre a água: há momentos em que o barco parece ficar na posição vertical. Se você está do lado errado, pode cair dentro d'água facilmente e ainda atrapalha o deslocamento do barco. Outra coisa que um leigo (meu caso) geralmente não percebe: é o peso dos tripulantes e sua relação com a vela que faz o barco progredir só com a força do vento.

Por isso a sensação é de que se está dançando com o veleiro. Enquanto velas gigantescas vão sendo içadas, todos os tripulantes precisam mudar de lado entre cordas, cabos e equipamentos. Se você tropeçar...pode cair no mar. E não estamos de colete. Por sorte, esta foi apenas uma possibilidade mais remota e após alguns minutos os movimentos ocorrem de maneira quase automática.

Ao contrário de uma corrida de Fórmula 1, por exemplo, é mais difícil perceber a posição de seu barco dentro da regata. Durante o percurso, parece que estamos à frente, mas um leigo não consegue ter certeza, já que os barcos estão distante uns dos outros e têm suas estratégias particulares. Mas, para a virada final antes da reta de chegada, quando o mar aberto vira um funil, já é possível perceber que nosso posicionamento é bom.

Aparentemente, algo dá errado, e o barco Pajero é o primeiro colocado - e também o único à frente do nosso Mitsubishi Gol, vice-líder. A segunda posição nessas circunstâncias é uma derrota para um sujeito com o currículo de Torben, que rapidamente faz seu julgamento. O homem de sangue dinamarquês, com alguns palavrões bem brasileiros, tenta afinar os detalhes para o dia seguinte e diz tudo o que houve de errado.

Torben me explica que a equipe não se juntava havia quase um ano, o que faz crescer a importância dessa regata com os jornalistas. Se para eles foi importante, imagine para nós. Velejar no mesmo barco onde está Torben Grael é como jogar futebol com Ronaldo ou Zico, quiçá Pelé. É como trocar bolas com Gustavo Kuerten ou quem sabe saltar em uma piscina com Cesar Cielo. Uma experiência para contar aos filhos.

Fonte: Terra

Um comentário:

  1. Parabens a iniciativa da regata e especialmente ao texto. Me lembrou meus tempos de regateiro pela bela descrição do ambiente a bordo.

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