domingo, 29 de abril de 2012

O Globo - Censo mostra via crucis no transporte



Engarrafamento no Rio de Janeiro.

Indicadores revelam que demandas são crônicas e persistentes

Apesar dos grandes investimentos em infraestrutura em curso, e outros ainda por sair do papel, mas de qualquer forma dentro da agenda de intervenções urbanísticas previstas para a capital e a região metropolitana, o Rio de Janeiro ainda trafega na contramão do aperfeiçoamento do seu sistema de transporte. Evidência disso, entre outras deficiências da malha, são os longos e quase diários engarrafamentos, o desconforto de coletivos, trens, metrô e barcas, a falta de planejamento na organização das linhas de ônibus (com regiões de oferta superior à demanda, e outras onde o fenômeno é inverso, por exemplo) e por aí vai.

Outra constatação, igualmente irrespondível, salta dos indicadores do Censo de 2010. Os números mostram uma realidade cruel com quem depende do sistema de transportes para trabalhar: o Estado do Rio ocupa o primeiro lugar no negativo ranking que mede o tempo que os trabalhadores levam no percurso entre casa e o local de prestação de serviço. Segundo o recenseamento do IBGE, 23,1% dos fluminenses maiores de 10 anos que têm alguma ocupação gastam mais de uma hora na ida para o emprego. Na comparação entre 36 regiões metropolitanas do país, a do Rio também está no topo da lista, com a incômoda marca de 28,6% empregados que perdem mais de 60 minutos no transporte.

A situação é mais crítica na Baixada Fluminense. Na relação dos 20 municípios brasileiros onde, proporcionalmente, os trabalhadores levam mais tempo para chegar ao trabalho, a região aparece com cinco: Japeri (no topo do ranking das cidades do país em que o percurso casa/local de emprego é uma via crucis), Queimados (4º lugar), Nova Iguaçu (7º), Belford Roxo (14º) e Magé (18º).

Entre as capitais, o Rio aparece no censo como a segunda colocada em termos absolutos, com 25,3% dos trabalhadores penando por mais de 60 minutos dentro de algum veículo (São Paulo em primeiro, com 31%). Mas, levando-se em conta que 75% da população do Estado do Rio moram na região metropolitana, contra 50% em São Paulo (que também tem outros polos de trabalho), o peso de campeão desse negativo indicador acaba recaindo mesmo sobre o trabalhador fluminense.

O quadro desenhado pelo recenseamento confirma que são tão persistentes quanto crônicas as demandas de transporte no Estado do Rio. Décadas de leniência do poder público com o problema, com investimentos em infraestrutura e melhoria da malha viária em escala sempre abaixo das necessidades, se refletem num movimento perversamente contrário ao exigido pelo natural crescimento das cidades: enquanto se mostraram acanhadas as ações de reurbanização das cidades, como a abertura de opções de trânsito para desafogar corredores saturados, o aumento da frota em circulação foi irreversível. Em 20 anos dobrou o número de veículos em trânsito somente na capital.

As inversões urbanísticas incrementadas nos últimos anos em razão de compromissos do poder público com a Copa de 2014 e os Jogos de 2016 põem um considerável aporte de esperanças de que tais demandas sejam equacionadas. E isso deve ser feito não só com o objetivo de superar deficiências herdadas do passado, mas, principalmente, de preparar o Rio para desafios do futuro.

Fonte: O Globo/Opinião

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