quarta-feira, 16 de abril de 2014

Especialistas questionam alinhamento do investimento social corporativo ao negócio da empresa




A ideia de que o investimento social corporativo deve estar alinhado aos negócios da empresa tem predominado de tal maneira na sociedade civil que chega a parecer inquestionável. Mas não é.

O 8º Congresso do Gife, realizado em São Paulo entre 19 e 21 de março, organizou uma mesa para discutir justamente “Investimento social e negócio: dilemas do alinhamento“.

O secretário geral do Gife, André Degenszajn, apresentou dados segundo os quais 50% das empresas associadas à organização têm suas ações sociais total ou parcialmente alinhadas. Ele próprio, porém, comentou que esse movimento pode gerar uma indesejável “indeterminação entre interesses privado e público”. “O alinhamento é tendência nova, mas há resistências a ele pelo medo de que interesses privados se sobreponham à ação social”, reforçou Anna Peliano, coordenadora da pesquisa Benchmark do Investimento Social Corporativo (Bisc), da Comunitas.

O risco é a lógica empresarial invadir o campo social, apontou Francisco Azevedo, diretor do Instituto Camargo Corrêa. Há uma “dificuldade de alinhar a lógica de resultados”, típica das empresas, “e a de valores”, das fundações e institutos empresariais.

O ideal, de qualquer forma, é que o alinhamento seja mútuo, defendeu o pesquisador mexicano Rodrigo Villar, do Centro de Investigação e Estudos sobre Sociedade Civil (Ciesc). “É problemático se for unilateral, a empresa também tem de estar alinhada à experiência social de sua fundação”. Azevedo fez coro: “Há a oportunidade de incorporar a cultura do investimento social no negócio, ajudando a humanizá-lo”.




O professor Ricardo Abramovay, da Faculdade de Economia e Administração da USP, mostrou certo ceticismo sobre essa possibilidade. “Não encontrei na literatura sobre o assunto nenhum caso desse tipo”. Para Anna Peliano, é “uma atribuição forte demais aos institutos pensar que eles podem mudar a lógica das empresas; são estas que têm de querer mudar”. Ela lembrou, no entanto, que empresas que fazem investimento social já demonstram alguma preocupação com o tema. “Os institutos e fundações são a inteligência social das empresas, os receptores e transmissores de demandas para dentro das corporações.”

Villar apontou uma das maneiras de mitigar a excessiva influência das empresas sobre seu braço social: “Quando fundações e institutos não têm pessoas de fora, da sociedade, na governança, há problemas”. Na mesma linha, Azevedo acrescentou: “É preciso oxigenar os conselhos de fundações e instituições”.

O diretor do Instituto Camargo Corrêa argumentou também que mudanças no financiamento das organizações sociais corporativas poderiam diminuir os riscos de problemas. “Entidades com patrimônio próprio têm maior independência de ação e, no Brasil, em geral, não é assim, todo ano é uma briga para aprovar orçamento”, testemunhou Azevedo.

Fonte: IDIS


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