terça-feira, 9 de agosto de 2016

ABERTURA DA RIO 2016: Pesquisador da USP analisa a dimensão e a importância da mensagem ambiental do evento



Avaliação é do professor da USP Paulo Artaxo, que atuou como consultor da equipe que elaborou o filme exibido na abertura dos Jogos Olímpicos.


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Clique nas imagens para abrir as animações. Os gifs foram feitos pelo climatologista britânico Ed Hawkins, da Universidade de Reading, no Reino Unido.


"Abertura da Rio 2016 mostrou que Brasil participa de questões científicas globais"

Karina Toledo | Agência FAPESP – Com uma audiência estimada em 3 bilhões de pessoas, foi realizado no dia 5 de agosto, no Rio de Janeiro, o maior evento de divulgação científica da história. O tema: mudanças climáticas globais.

Em cerca de 2 minutos, um filme veiculado durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016 mostrou como o dióxido de carbono (CO2) emitido pelo homem se acumula na atmosfera, causando o aumento da temperatura do planeta, o derretimento das calotas polares e o aumento do nível do mar.

Com base em modelos científicos, ilustrou o que pode acontecer até o fim deste século em locais como Amsterdã (Holanda), Dubai (Emirados Árabes Unidos), Flórida (Estados Unidos), Xangai (China), Lagos (Nigéria) e Rio de Janeiro (Brasil) – caso as emissões de CO2 se mantenham nos níveis atuais.

Na sequência, apresentou uma das possíveis soluções para o problema por meio do plantio de árvores, que ajudariam a sequestrar parte do carbono emitido e fixá-lo na biosfera. Daí surgiu a proposta de que cada atleta plantasse – durante a cerimônia – uma semente e que, posteriormente, as 11 mil mudas sejam transferidas para o Parque Radical, estrutura construída para os jogos no Complexo Esportivo de Deodoro, para formar a Floresta dos Atletas. As espécies de plantas foram distribuídas de acordo com a nacionalidade dos competidores. Uma forte mensagem simbólica.

O roteiro foi idealizado e dirigido pelo cineasta Fernando Meirelles e sua produção contou com a consultoria dos pesquisadores Tasso Azevedo e Paulo Artaxo.

Azevedo, engenheiro florestal, coordenador do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG) e diretor executivo do Imaflora, tratou do tema “floresta”. Artaxo, que é professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP), membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) e da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), ficou responsável pelas questões científicas referentes às mudanças climáticas.

Em entrevista à Agência FAPESP, Artaxo comentou qual foi sua participação na cerimônia de abertura da Olimpíada e como isso pode contribuir para a causa ambiental global.

Agência FAPESP – De quem foi a ideia de abordar o tema das mudanças climáticas globais na cerimônia de abertura e qual foi sua contribuição?

Paulo Artaxo – O Fernando Meirelles é um cineasta bastante sensível às questões ambientais e teve a ideia de incluir o tema das mudanças climáticas na cerimônia de abertura. A equipe dele me procurou para auxiliar na tarefa, de modo que não houvesse nenhum deslize científico na mensagem que seria transmitida no filme final. Meu papel foi selecionar produtos científicos confiáveis, como gráficos e animações. Fui atrás das melhores e mais atuais referências, como os produtos usando os mapas de elevação de terreno produzidos pelo United States Geological Survey e pelo International Geosphere-Biosphere Programme (IGBP). Principalmente em relação ao aumento do nível do mar, há alguns sites que exageram na questão e sugerem que o planeta inteiro pode ficar embaixo d’água, mas não é o que vai acontecer. São necessárias fontes de informações básicas, modelos confiáveis e isso não é algo trivial. Houve a preocupação de abordar a questão de maneira leve, afinal era uma festa de abertura, mas, ao mesmo tempo, passar a mensagem de que temos de cuidar do nosso planeta com urgência. Logo após a sessão dedicada à mudança climática veio o tema das florestas, que contou com a consultoria de Tasso Azevedo.

Agência FAPESP – Como o senhor avalia o resultado do trabalho e seu impacto?

Artaxo – A ideia era contar uma história e, assim, tratar das principais questões relacionadas às mudanças climáticas: aumento da temperatura do planeta, sua relação com as emissões de CO2 e de aerossóis resultantes das atividades humanas e, por último o aumento do nível do mar. Acho que o resultado final deu muito certo e ajudou a mostrar que o Brasil não se resume a samba, carnaval e Gisele Bündchen, mas também está envolvido seriamente nas questões científicas globais. Penso que tão importante quanto produzir ciência de qualidade é trabalhar para a disseminação desse conhecimento para toda a sociedade – não apenas para a comunidade acadêmica e os formuladores de políticas públicas. Acredito que a mensagem, durante a cerimônia de abertura, foi passada de modo que mesmo as pessoas sem qualquer formação científica puderam compreender e isso é extremamente importante.

Agência FAPESP – De que forma isso pode ajudar a combater o problema climático?

Artaxo – Desde o terceiro relatório do IPCC, divulgado há cerca de 15 anos, tem sido falado claramente que se não houver uma redução na emissões de gases-estufa haverá um aumento significativo na temperatura do planeta. Foi somente depois de 2007, quando o IPCC ganhou o Nobel da Paz, que o tema das mudanças climáticas ganhou visibilidade. Agora, o Acordo de Paris deixou claro que a humanidade vai atuar nessa questão para minimizar os impactos. Se o fará na velocidade necessária e da forma necessária, ninguém sabe. O fato é que os políticos, em geral, respondem às demandas da população que os elege. Mas há também fortes interesses econômicos e políticos envolvidos. E o setor de exploração de petróleo e carvão ainda é um dos maiores setores econômicos do planeta. É preciso haver muita pressão por parte da sociedade, muita política pública bem elaborada e ação governamental coordenada. No Acordo de Paris, cada país está adotando a sua meta nacional de redução de emissão de carbono, o que é absolutamente estratégico para o planeta. Claro que os compromissos feitos até o momento não são suficientes para garantir clima estável ao longo das próximas décadas, mas esperamos que os compromissos aumentem conforme se acumulam as evidências de que os impactos podem ser muito importantes, inclusive economicamente. É um complexo jogo entre a sociedade, a economia que move o planeta e os tomadores de decisão. Temos de atuar em todos os níveis e o filme da abertura da Rio 2016 ajudou a divulgar informações cruciais para a população em geral. Deixou uma mensagem inequívoca de que é preciso agir para frear as mudanças climáticas globais.

Fonte: Agência FAPESP







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